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Denise Britto - Publicado em 16-10-2025 10:30
UFSCar participa de estudo sobre cadeia produtiva da animação brasileira
Mapeamento, realizado pela professora Alessandra Meleiro, será lançado em SP (Imagem: Reprodução)
Mapeamento, realizado pela professora Alessandra Meleiro, será lançado em SP (Imagem: Reprodução)

O mais completo estudo sobre a cadeia produtiva da animação brasileira será lançado no dia 24 de outubro, durante o V Encontro de Ideias, evento de mercado da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Mostra SP), que acontece entre os dias 22 e 25 de outubro de 2025, na Cinemateca Brasileira, a partir das 11 horas. 

A pesquisa foi realizada pela professora Alessandra Meleiro, do Departamento de Artes e Comunicação (DAC) da UFSCar. O evento é aberto ao público, sem necessidade de inscrição. As informações estão no site (https://iniciativacultural.org.br/anima/) e no Instagram (@iniciativacultural).

A pesquisa, intitulada 2º Mapeamento da Animação no Brasil, foi desenvolvida de agosto de 2024 a outubro deste ano, e teve como objetivo apresentar um panorama atualizado do setor, identificando suas perspectivas, gargalos e oportunidades de desenvolvimento.  "O nosso principal objetivo com o lançamento da 2ª edição do mapeamento foi subsidiar políticas públicas, orientar decisões estratégicas de agentes do setor e fortalecer a presença da animação brasileira no cenário global. A análise contempla temas estratégicos como financiamento, propriedade intelectual, relações trabalhistas e institucionais, infraestrutura, gestão empresarial e inteligência artificial", destaca a professora Alessandra Meleiro.

O estudo atualiza o primeiro mapeamento, de 2019. "A pesquisa reuniu informações fundamentais sobre a evolução das técnicas, serviços, processos e infraestrutura da animação no País, além de dados sobre sua inserção nos mercados nacional e internacional, atualizando o estudo inicial de 2019", complementa a professora da UFSCar. 

O trabalho, de caráter quantitativo, contou com a participação de 466 respondentes, incluindo:

- produtoras (empresas responsáveis pela gestão e viabilização de projetos), estúdios (focados na execução técnico-artística de conteúdos animados, como filmes, séries e outros formatos audiovisuais);
- prestadores de serviço individuais (profissional que atua na área técnica-artística/criativa de animação, que trabalha sob encomenda para terceiros); 
- estúdios (focados na execução técnico-artística de conteúdos animados, como filmes, séries e outros formatos audiovisuais); 
- realizadores de animação (artista/autor que não tem na animação sua renda principal, desenvolvendo projetos autorais de animação).

Animação no Brasil
Segundo a professora da UFSCar, "o setor de animação no Brasil tem demonstrado um crescimento notável e um potencial significativo de expansão, consolidando-se como uma força relevante na indústria criativa global".

Ela explica que o setor de animação no Brasil "abrange um vasto ecossistema de profissionais e empresas dedicadas à criação de conteúdo audiovisual por meio de técnicas de animação. Este mercado não se restringe apenas a filmes e séries, mas se estende a diversas outras mídias e aplicações, como publicidade/propaganda, videografismo/motion design (vinhetas e institucional), games, animação técnico-científica, animação interativa (realidade virtual, aumentada e mista), aplicativos etc.". 

Animações de destaque
Nesse contexto, o Brasil tem produzido diversas animações que conquistaram o público e a crítica, tanto nacional quanto internacionalmente, avalia Meleiro, listando alguns exemplos:

- "O Menino e o Mundo" (2013): Dirigido por Alê Abreu, este filme foi indicado ao Oscar de Melhor Animação, explorando temas sociais e ambientais.

- "Uma História de Amor e Fúria" (2013): De Luís Bolognesi, vencedor do Festival de Annecy, narra a história do Brasil através de diferentes períodos históricos.

- "Tito e os Pássaros" (2018): Dirigido por Gabriel Bitar, André Catoto e Gustavo Steinberg, aborda o medo e a busca pela cura de uma doença misteriosa, com uma estética visual marcante.

- "O Irmão do Jorel" (2014-presente): Série de televisão criada por Juliano Enrico, conhecida por seu humor peculiar e referências à cultura brasileira, exibida no Cartoon Network.

- "Turma da Mônica" (diversas produções): As criações de Mauricio de Sousa são um fenômeno cultural no Brasil, com inúmeras séries, filmes e produtos licenciados que marcaram gerações.

- "O Show da Luna!" (2014-presente): Série educativa para crianças, criada por Célia Catunda e Kiko Mistrorigo, que explora a curiosidade científica de forma divertida.

- "Tromba Trem" (2011-presente): Criada por Zé Brandão, esta série acompanha as aventuras de um grupo de animais em um trem, com um estilo de humor irreverente.

Números da pesquisa
Confira alguns dados do 2º Mapeamento da Animação no Brasil:

- 466 empresas respondentes;
- 61% dos respondentes são freelancers;
- Enquanto 17% dos freelancers utilizam IA na fase de desenvolvimento de projetos de animação, 40% das empresas a adota nesta mesma fase;
- Para 60% das empresas a captação de investimento e a burocracia para acesso ao fomento são extremamente limitantes do mercado de animação;
- Apenas 17% das empresas têm como fonte de recurso o mercado internacional; 
- O número de colaboradores em trabalho remoto dobrou de 2019 para 2025;
- 60% das empresas faturam até R$ 120 mil por ano, enquanto apenas 21% fatura mais de R$ 1,2 milhão;
- 44% das empresas têm definição de plano de carreira para colaboradores.

Primeiro mapeamento
A primeira etapa do Mapeamento, lançada em 2019, foi através do site interativo www.mapeamentoanimacao.com.br, "resultado do maior esforço já realizado para retratar a animação brasileira", afirma a pesquisadora da UFSCar. 

"Como sabemos, não é fácil congelar, num único frame, um setor dinâmico, multifacetado e complexo como o da animação. Um setor com raízes em 1917 - ano de exibição do filme "O Kaiser", feito pelo cartunista Álvaro Marins (Seth) - e hoje inserido num mercado que, sem contar publicidade e licenciamento, movimenta quase R$ 5 bilhões por ano, segundo estimativa do BNDES", analisa.

"Estamos falando de um segmento espalhado por todo o País, com tudo o que isso significa do ponto de vista de diversidade, mas também de desigualdade estrutural. Um universo que inclui personagens que marcaram gerações, sucessos da TV paga e da Internet, longas premiados, peças publicitárias, ferramentas pedagógicas e profissionais, jogos eletrônicos e uma infinidade de curtas-metragens".

Para tentar dar conta desses inúmeros aspectos, a professora conta que o Mapeamento da Animação do Brasil 2019 envolveu três etapas: 1. um questionário online com empresas, freelancers e autores individuais; 2. um grupo focal com trabalhadores da área; e 3. entrevistas com especialistas e representantes de segmentos envolvidos na cadeia produtiva, como distribuidores, financiadores, instituições de ensino, diretores de festivais e gestores públicos. As etapas foram acompanhadas por consultores com longa experiência no mercado - Alessandra Meleiro e Reynaldo Marchesini - e um comitê consultivo.

Metodologia do 2º Mapeamento
Em 2025, o Mapeamento focou no módulo quantitativo. O questionário online foi atualizado com tópicos como características do modo de produção (Coprodução nacional, Coprodução internacional, Importação de serviços, Outsourcing, plataformas de divulgação e comercialização), além da utilização de Produção Virtual e questões sobre o uso de Inteligência Artificial na produção de animação (conhecimento, utilização e perspectivas). A pesquisa de mercado foi realizada por meio de questionário estruturado, articulado com entidades do setor para garantir ampla divulgação, nos seguintes temas: perfil; produção; operação, capital humano, finanças e gestão.

A estratégia de disseminação incluiu o uso de mailings institucionais, redes sociais e contatos via WhatsApp. "Para assegurar a efetividade do processo, também disponibilizamos canais de comunicação e suporte técnico aos 466 respondentes", detalha a pesquisadora.

Avanços e perspectivas
Com essas frentes, avalia a professora, "obtivemos informações conjunturais e análises contextualizadas. Foi possível conhecer o perfil da produção e dos profissionais, colher dados financeiros, identificar dificuldades e oportunidades, saber das perspectivas para os próximos anos".

E finaliza: "somos testemunhas e agentes do crescimento da animação brasileira em produção e profissionalização. Sistematizar dados, como estamos fazendo com este trabalho, nos parece fundamental para entender melhor as forças e desafios do setor, conceber projetos e implantar ações". 

Apoio financeiro
O projeto contou com financiamento do Ministério da Cultura, através da Lei Paulo Gustavo, via Spcine/Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo, e uma larga rede de Apoiadores Institucionais.

Os resultados do estudo podem ser acessados no site do Instituto Iniciativa Cultural.